Sunday, October 26, 2008

Entrevista com Jairo "Tormentor" Guedz


Fui bater um papo com Jairo “Tormentor” Guedz, guitarrista fundador do Sepultura, que gravou o Ep “Bestial Devastation” (1985) e o primeiro lp da banda “Morbid Visions” (1986). Jairo contou um pouco sobre a história do Sepultura no início de carreira da banda, falou sobre as bandas que participou posteriormente – The Mist, Overdose e Eminence – e sobre curiosidades de sua carreira e gostos pessoais. Acompanhem nessa entrevista.

Jairo, gostaria que você falasse como foi o seu primeiro contato com a música e quais seus ídolos?
Jairo “Tormentor” Guedz – Minha mãe me apresentou sua coleção do Elvis Presley em 1978 e de lá prá cá só fui evoluindo minhas influências com rock mais pesado. Aerosmith, Van Halen, Sweet, Black Sabbath, Metallica, Slayer, etc. Quanto aos meus ídolos (músicos) eu sempre gostei muito de Serge Gainsbourg, Leonard Cohen, Sisters Of Mercy, Lou Reed e James Hetfield do Metallica.

Como foi o início do Sepultura? Como a banda foi formada e como era o cenário naquela época que vocês estavam começando com a banda?
Encontrei os caras durante uma briga num show em BH. Eles no início achavam que eu era o irmão gigante de um playboy que eles estavam batendo, mas depois de um tempo, na mesma noite, viram que eu só queria trocar “figurinhas” e me chamaram para ver uns ensaios, que por sinal eram péssimos. Eu fui convidado a tocar umas coisas minhas e acabaram me convidando para o grupo no mesmo dia. O que eu toquei na época se tornou depois as músicas “Troops Of Doom” e “Necromancer”.

Por que você saiu do Sepultura? Existe algum arrependimento ou mágoa que se você pudesse voltaria atrás em algum ponto da história da banda?
Saí para resolver umas pendências minhas: casamento, filhos, grana, etc. Nunca me arrependi de não ficar rico com o Sepultura, mas sempre me arrependi da falta que a nossa amizade fazia em vários momentos da minha vida.

Você tem algum contato com membros e ex-membros do Sepultura?
Tenho contato com todos separadamente. O Max eu encontrei pela última vez em Tolmim na Slovênia em 2005 quando minha banda abriu um show do Soufly. O Iggor eu falo com ele de vez em quando por telefone. O Paulo e o Andreas são grande amigos e nos vemos muito em São Paulo ou em Belo Horizonte.

Você pensava no momento em que deixou a banda que ela se tornaria tão grande e influente como se tornou no meio dos anos 90?
Não tão grande quanto ela se tornou, mas saí da banda tendo conhecimento de alguns contratos que estavam para acontecer.


Como foi a sua participação no DVD/CD “Live In São Paulo” (2005) do Sepultura? O que você achou do material e da sua performance e da banda nesse trabalho?
Foi muito bom. O público sempre fica transtornado quando os caras anunciam meu nome. Eu entro no palco e uma galera que está atrás vem correndo para a frente do palco. É muito engraçado e ao mesmo tempo é uma atitude que dou muito valor. Os caras da banda também gostam muito quando posso me apresentar com eles. A energia da banda é muito boa, sem demagogias. É como uma família que dá certo quando estamos juntos.

O que você acha da atual fase da banda?
Eu respeito todas as fases do grupo. Não fico dando toques pros caras pois cada um segue seu destino e decide seu caminho. Acho que a fase de 1995 era a melhor de todas, mas foi exatamente esta fase que ironicamente se transformou na maior briga da banda e culminou com a saída Max e do Iggor posteriormente.

Em entrevistas recentes Max Cavalera diz que seria interessante uma reunião da banda e que ele gostaria que você estivesse envolvido nessa reunião. O que de verdade há nessa afirmação? Houve contatos a respeito? Você aceitaria participar dessa reunião?
A afirmação é 100% verdadeira. Tive sim algum contato com eles a respeito disso, mas na verdade, a banda é do Paulo e do Andreas. Não é o Max, o Iggor ou eu que decidiremos o que será feito com o futuro do Sepultura. A banda pertence aos seus membros, não aos seus ex-membros.


Bom, saindo do Sepultura você montou o The Mist. Na minha opinião uma excelente banda, bastante inovadora e vanguardista. Porque você acha que a banda não se tornou grande como merecia? O que faltou para ela atingir o sucesso de outras bandas do selo Cogumelo na época?
Simplesmente porque não tínhamos nenhuma estrutura por trás do grupo que nos ajudasse com contratos, etc. No ano de 1992 recebemos uma proposta da gravadora inglesa Music For Nations e recusamos por falta de estrutura e de empresário. Pensamos muito na parte musical e individual e deveríamos ter pensado nas possibilidades que este contrato poderia nos trazer no mercado internacional.

Fale um pouco sobre as outras bandas que você esteve envolvido, Overdose e Eminence. Como foi essa época em sua carreira?
Foram boas experiências. Não costumo mais falar do Eminence. Não tenho boas recordações daquela época, apesar de considerar o grupo muito profissional. Quanto ao Overdose, eu passei um ano com eles como guitarrista e adorei. Tínhamos muita energia e respeito um pelo outro. Infelizmente as coisas não deram certo e a banda se dissolveu. Eu tinha sido contratado para uma turnê nos EUA abrindo para o Mercyful Fate, e assim que completamos um ano juntos as coisas ruíram de tal forma que cada um foi pro seu canto. É outra grande banda e da qual sinto muitas saudades dos caras também. Hoje somos amigos e nos vemos de vez em quando.


Qual a sua maior qualidade e o seu maior defeito como músico?
Qualidade e defeito são meras conjecturas. Eu acho que minha maior qualidade é o meu maior defeito, e isso eu penso porque conheço como poucos o mercado do Heavy Metal mundial. Eu sou muito flexível, gosto de tudo um pouco, tenho muitas influências diferentes e gosto de juntar as peças para fazer algo inovador, algo que possa ser considerado “arte” de verdade. Isto pode ser uma grande qualidade se você não está tão preocupado com “ganhar dinheiro com o metal” ou se sua banda é formada por membros que pensam de forma tão aberta e flexível. Do contrário, as coisas se tornam muito difíceis.

O que você tem ouvido ultimamente? Quais bandas nacionais e internacionais que você acha que vale a pena indicar para as pessoas?
Nacionais eu gostei muito do Attack Force de São Paulo. É metal cantado em português da melhor categoria. Até gravei o baixo no álbum de estréia dos caras e por isso afirmo que são realmente bons pra caralho. No mais, o Brasil está muito carente de coisas inteligentes e inovadoras. Ainda temos muito o que aprender em matéria de estrutura para as bandas de metal e shows, turnês e empreendimentos, merchandising, etc. Quanto as bandas de fora eu tenho ouvido muito Tool, A Perfect Circle, Ministry, Puscyfer, Slipknot, Metallica velho e Samael.

Quais os seus projetos futuros dentro da música?
Eu tenho um projeto em andamento hoje com quatro amigos meus. Um dos caras é do Rio de Janeiro e toca guitarra com a banda Matanza. Nós estamos ensaiando pouco, pois o cara tem que vir do Rio de Janeiro para Belo Horizonte toda semana e isto dificulta muito as coisas. A intenção dessa banda é fazer o que der na teia, sem medo, sem stress, sem nada que prenda nossos rabos à alguma coisa ou estilo. Queremos ser felizes em tocar o que Nós decidirmos, nada mais.

Jairo, obrigado pela entrevista. Gostaria que deixasse uma mensagem para todos.
Muito obrigado e espero ajudar algum metaleiro maluco que ler essa matéria de alguma forma. Diga não as drogas e não leve mulheres para os ensaio, pois isso acaba com qualquer banda.

3 Comments:

Blogger Unknown said...

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10:15 PM  
Blogger Unknown said...

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10:15 PM  
Blogger Unknown said...

se quer saber alguma coisa sobre metal e entender um tanto sobre o tema leia a entrevista, palavras sábias de quem conhece as entranhas do movimento.

10:17 PM  

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